Doenças e Sintomas

Comprometimento Cognitivo Leve (CCL)

No CCL as mudanças na cognição (entende-se como cognição – Memória, Linguagem, Atenção, funções executivas e habilidades Viso-Espaciais) estão abaixo do normal (esperado para a faixa etária), e como agravante ainda não foi descoberto critérios de diagnóstico precoce para esta fase da demência.

Existe uma classificação de CCL que distingue a forma Amnéstica da forma não Amnéstica. A forma Amnéstica geralmente precede a Doença de Alzheimer. 

Do ponto de vista epidemiológico, a prevalência do CCL varia entre 3% a 19% em adultos acima de 65 anos. Destes, mais da metade progridem para demência dentro de 5 anos. Uma meta análise (estudo que avalia outros estudos) identificou uma conversão anual do CCL para demência em torno de 5-10%.

  • Perda de memória.
  • Distúrbios de linguagem (dificuldade em “achar” as palavras).
  • Déficit de atenção (dificuldade em seguir ou focar-se em uma conversação).
  • Deterioração de habilidades viso espaciais (certa desorientação em ambiente familiar).
  • Ausência de comprometimento social e ocupacional (com este fator marcaria o início da demência).

(Albert et al.,2011)

Embora nenhuma característica única no exame físico caracteriza o CCL, o seguinte deve ser incluso na avaliação global do paciente:

Avaliação do Status Mental

Avaliar se existem condições potenciais para causar tal condição (excluir outras doenças)

Examinar se existem distúrbios sensoriais (baixa visão, baixa audição) e/ou motoras (paralisias) que possam estar causando ou exacerbando a condição.

Ressonância Magnética do encéfalo. Existem evidências que a mensuração do volume total encefálico e do hipocampo (região semelhante a um cavalo marinho, situado no interior do lobo temporal e, responsável pela memória) podem predizer a progressão do CCL para a Doença Alzheimer (Risacher SL. Current Alzheimer Reserch.2009 Aug). Apesar disto, não existem parâmetros ainda estabelecidos para integrar estes achados no diagnóstico e manutenção do CCL.

Adicionalmente, existem algumas evidências preliminares no uso do FDG-PET em conjunto com a avaliação da memória episódica para prever a conversão do CCL para a DA (FDG-PET- Tomografia por Emissão de Pósitrons a qual utiliza glicose marcada com flúor radioativo). (Landau SM et al. Neurology. 2010 Jul).

  • Observação do paciente.
  • Mini Exame do Estado Mental (aplicada ao paciente).
  • Bateria Cognitiva Breve (aplicada ao paciente).
  • Escala de Depressão Geriátrica (aplicada ao paciente).
  • Questionário de Atividades Funcionais de Pfeffer (aplicado ao informante).
  • Short-IQCODE (aplicado ao informante). 
  • MEDICAMENTOS

Atualmente, nenhum tratamento estabelecido existe para o CCL. Provavelmente a Donepezila pode retardar o desenvolvimento da demência em pacientes que possuem em conjunto depressão (Panza F et al, Journal of the American Geriatrics society. 2010 Feb). Existem evidências que sugerem que intervenções cognitivas (treinamentos cognitivos) podem apresentar um efeito positivo. (Simon SS et al, Neurosci Biobehav Ver, 2012 Feb).

O resultado de um estudo com 361 indivíduos com Demência de Alzheimer, Demência Vascular ou Demência Mista (vascular e Alzheimer em concomitância) sugere que o uso de inibidores da enzima conversora da angiotensina com ação central (no encéfalo) podem reduzir a velocidade de evolução da demência. (Gao Y, et al, BMJ OPEN. 2013).

  • DIETA

O estudo conduzido por Roberts et al demonstrou uma redução no risco em desenvolver o CCL em pessoas que se utilizam da dieta do Mediterrâneo, a qual é rica em vegetais e gorduras insaturadas. (Roberts RO et al, Dementia and Geriatric Cognitive Disorders. 2010, May).

Um estudo randomizado, duplo-cego, com uso de placebo e controlado envolvendo 25 idosos com CCL, determinou que a suplementação com uma emulsão oleosa do ácido docosahexaenoico (DHA) - fosfolípide que contém melatonina e o triptofano gerou uma significante melhora nas medidas de funções cognitivas quando comparadas com a suplementação com o placebo (Mariangela R et al, Nutr Neurosci, 2011.

  • ATIVIDADES

Atividades sociais, físicas e mentais são geralmente recomendadas para pacientes com DA e, em vigência do alto índice de conversão do CCL para a DA, muitos especialistas sugerem que atividades mentais desafiadoras e treinamentos cognitivos podem ser úteis em pacientes com o CCL.

Tais exercícios e atividades devem estar de acordo com o nível intelectual e cognitivo do paciente, assim como devem ser interativos e não passivos. Devem ser executados de uma forma aprazível para não causar qualquer tipo de frustração excessiva. Caso a atividade não seja prazerosa para o paciente ou, pouco estimulante, pouco provavelmente oferecerá um benefício cognitivo.

O isolamento social deve ser evitado ou minimizado. Tendo-se em vista as atuais demandas laborais e sociais dos parentes mais próximos e mais jovens (filhos), uma das estratégias é referenciar estes pacientes para centros especializados em tratamentos comunitários ou, para programas de treinamento durante o dia. Treinamentos cognitivos e estratégias de reabilitação oferecem consideráveis benefícios para estes pacientes e assim, devem ser encorajados e explorados (Galante E et al, G Ital Med Lav Ergon.2007 Jul-Set).

Um robusto corpo de evidências tem demonstrado que a atividade física regular e moderada (principalmente exercícios aeróbicos) estão associados com uma chance menor de desenvolver o CCL e, secundariamente a DA (Geda YE, et al. Archives of Neurology. 2010. Jan).

Em 2040, serão 81 milhões de pessoas com Demência de Alzheimer. A Demência de Alzheimer é a forma mais prevalente de doenças degenerativas encefálicas que levam ao prejuízo das esferas cognitivas. Infelizmente, a identificação de quadros de Comprometimento Cognitivo Leve é extremamente importante no tocante da tentativa de prevenção.

A maior parte das queixas de esquecimento são tidas como triviais, oriundas da idade (Áh, isto vem com a idade...) ou atribuídas à falta de atenção. Obviamente, a queixa de memória ruim é universal e na grande maioria dos casos (em jovens), não significa comprometimentos cognitivos com propensão para a Doença de Alzheimer. 

No entanto, nos deparamos inúmeras vezes com pacientes na faixa etária, habitualmente, acima dos 65 anos, com queixas vagas de esquecimento. Assim sendo, estas queixas de esquecimento tais como: não lembro o nome da pessoa com quem converso, não consigo às vezes achar uma palavra no meio de uma conversa, esqueço o fogo ligado, perco a chave e etc...).

Bom estes pacientes, em vigência dos dados expostos, devem ser avaliados de forma adequada.

A) Paciente com queixa pouco clara de perda de memória não corroborada por seu acompanhante.

Neste paciente, após avaliação neurológica e testes de funções cognitivas/memória, se constatado normalidade, lidaremos com o caso com objetividade. O paciente não encontra-se enfermo e deve repetir os exames de triagem cognitivas em um prazo de 6 meses a um ano (obviamente, caso ocorra piora, o mesmo deve retornar ao serviço assistencial e ser novamente avaliado). Este paciente é orientado a não desenvolver o quadro de perseguição da memória, ou seja, não permanecer o tempo todo preocupado com alguns lapsos de memória.

B) Paciente com quadro típico de CCL. Deve-se realizar as avaliações descritas acima, realizar exames de imagem e de sangue (afastar doenças infecciosas, deficiência de Vitamina B12, Vitamina D, insuficiência renal e hepática e distúrbios tireoidianos). Chegando-se ao diagnóstico do CCL, as orientações descritas acima devem ser levadas em consideração.

C) Paciente com quadro claro de demência. São pacientes com alterações dos domínios cognitivos e com evidente comprometimento das Atividade Funcionais da Vida Diária. Nestes casos, deve-se realizar todos os testes adequados para a fase da doença, exames de sangue (com intuito de descartar outras doenças) e exames de imagem encefálica. Assim, de posse destes dados, pode-se prosseguir com o início da hipótese diagnóstica e iniciar o acompanhamento e tratamento.

Existem inúmeros estudos em andamento sobre novos tratamentos para a Demência de Alzheimer e Comprometimento Cognitivo Leve. Normalmente o estudo passa pelas seguintes fase:

1) - Estudos em animais- aprovada esta fase passam-se para estudos em humanos
2) - Estudos em humanos:
2.1) fase 1: determina principalmente a segurança da medicação ou procedimento utilizado.
2.2) fase 2: determina principalmente a dose eficaz para determinada medicação ou a forma que um procedimento deve ser realizado.
2.3) fase 3: estudos randomizados, duplos cegos com uso de placebos e de controles.

Normalmente um medicamento não costuma passar pela fase 2 do estudo. Assim, existem, várias opções que não evidenciam-se eficazes durante o período de observação. Normalmente, passando pelo escrutínio científico, uma determinada medicação pode demorar até 3 anos para ser indicada como opção terapêutica oficializada. Desta forma, qualquer nova informação deve ser avaliada dentro destes princípios (as vezes uma notícia sensacionalista pode gerar falsas expectativas).

No entanto, tendo-se em vista as estatísticas sobre a maior expectativa de vida da população, associada aos índices visíveis e comprovados por estudos, do CCL e de sua alta taxa de conversão na Demência de Alzheimer, duas condutas devem ser realizadas:
1) Diagnóstico adequado e precoce do CCL assim como acompanhamento de pacientes com queixas de alterações de memória,
2) Utilização do melhor do conhecimento científico no tratamento destes pacientes.

Existem estudos em animais, estudos em fase dois e estudos em fase três para o CCL e DA. No entanto, estes estudos, demonstraram-se mais eficazes ou realmente apenas eficazes no CCL e na FASE INICIAL DA DEMÊNCIA DE ALZHEIMER. Assim sendo, em um cenário que possua inúmeros pacientes com queixas de memória, as duas condutas acima são extremamente importantes : diagnóstico precoce e oferecer o melhor tratamento disponível. Esta conduta VISA DE FORMA CLARA TENTAR COM TODOS OS ESFORÇOS MANTER O PACIENTE DENTRO DOS ESTÁGIOS DE CCL OU DA DE FORMA LEVE, O MAIR TEMPO POSSÍVEL, COM INTUITO DE CONSEGUIR VALER-SE DESTES TRATAMENTOS DENTRO DE UM PERÍODO DE 2 À 5 ANOS.

ASSIM SENDO, A CONCLUSÃO DESTE TEXTO, É DE CRIAR UMA CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE A NECESSIDADE DE IDENTIFICAR PRECOCEMENTE (NÃO DESVALORIZANDO AS QUEIXAS DOS PACIENTES) O CCL E TENTAR, DE FORMA SEGURA, MANTÊ-LOS DENTRO DESTA CONDIÇÃO OU, DENTRO DA FASE INICIAL DA DEMÊNCIA DE ALZHEIMER, PARA A POSSÍVEL UTILIZAÇÃO DE NOVAS TERAPÊUTICAS EM CURTO À MÉDIO PRAZO.