Tratamento

Fibromialgia

Neste tópico, o neurocirurgião e neurologista Dr. Diogo Anderle da Anderle Neurocirurgia, Neurologia e Cirurgia de Coluna aborda o tema da Fibromialgia por um prisma um pouco distinto do habitual.

Neste texto você encontra informações e esclarecimentos sobre Fibromialgia, numa abordagem diferenciada, linguagem acessível e nada monótona.

Fibromialgia - Identificando alguns sintomas.

Imagine você, entre seus 35 e 60 anos de idade, normalmente, sendo do sexo feminino, com dores no corpo inteiro o dia inteiro! Agora, associe a isto sensações de formigamentos e de inchaços nas mãos e nos pés. Tem mais: você acorda cansada, dolorida; parece que o sono não foi reconfortante (de fato não foi mesmo). Quando, morta de cansaço vai levantar da cama, ao pisar no chão, parece que existe um prego, enfiado da sola dos seus pés... Bom, para acentuar o desconforto, quando se faz algum esforço, as dores pioram extremamente. Ah! Provavelmente já passou por vários profissionais da área de saúde e realizou uma série de exames. E adivinhe? Não aparece nada! E quando aparece, são problemas outros que não justificam vossa dor. Bem ruim, não é? Mas calma. Tem mais:

  • Zumbidos no ouvido;
  • Desatenção;
  • Esquecimentos;
  • Ansiedade;
  • Depressão;
  • Uma fadiga, cansaço incontroláveis;
  • Fortes dores na coluna;
  • Dores de cabeça.

Infelizmente, a dura realidade não cessa por aí. Seus familiares, amigos e colegas de trabalho acreditam piamente que ninguém pode sentir tanta dor. É, isto denomina-se FIBROMIALGIA.

A Fibromialgia é uma desordem crônica, de dor e alterações na sensibilidade do corpo, de forma disseminada.
Apesar da queixa clínica, o histórico da doença e do exame físico serem extremamente sensíveis e específicos para a Fibromialgia, ela é um diagnóstico de exclusão. Assim, devemos afastar doenças reumatológicas e outras afecções que possam mimetizar a Fibromialgia.

Você deve estar se perguntando: Quais as causas da Fibromialgia? A etiologia da doença Fibromialgia ainda não está totalmente esclarecida, porém as pesquisas direcionam-se para uma causa MULTIFATORIAL, a qual inclui tanto fatores genéticos quanto fatores do desenvolvimento/ambientais.

O modelo biopsicossocial de Engel para doenças crônicas é bem útil neste entendimento. Assim: o estado de saúde e o resultado de uma doença crônica é influenciado por interações de fatores biológicos, psicossociais e sociológicos. ATUALMENTE A FIBROMIALGIA É CONSIDERADA E ENTENDIDA COMO UMA CONDIÇÃO GERADA POR UMA DESORDEM NO PROCESSAMENTO CENTRAL DA DOR. EXPLICANDO DE UMA MANEIRA MAIS SIMPLES: Os mecanismos centrais (encéfalo, centros da medula) interpretam de uma maneira errática o "volume da dor", ou seja, existe uma leitura pelos órgãos responsáveis por codificar sensações de uma maneira inadequada. Sensações não dolorosas ou, pouco dolorosas são entendidas pelo cérebro como DOR.

p>A proposta do exame físico é de chegar o mais próximo do diagnóstico da Fibromialgia e de descartar outras doenças.

Com exceção das alterações nos PONTOS GATILHOS (pontos bem definidos de dor pelo corpo), o exame clínico costuma ser normal.

PONTOS GATILHOS ou TRIGGER POINTS OU TENDER POINTS:
No exame físico para diagnóstico da Fibromialgia devem ser pressionados de forma sistematizada os 18 (dezoito) pontos dolorosos e, quantificado de 0 a 10 o grau de dor. Considerando-se positivo um ponto que possuir pontuação acima de 2.

Existe, obviamente uma técnica bem estabelecida para realizar tal exame.

UTILIZAMOS PARA AUMENTAR A ACURÁCIA DO EXAME UM APARELHO DENOMINADO ALGÔMETRO DE PRESSÃO.

Até o momento não existe marcador biológico que defina a Fibromialgia. Existem relatos do uso da termografia para a avaliação, porém ainda não é considerado como um exame que define o diagnóstico. O mais importante é a história clínica, exames físicos e, excluir outras doenças.

Em relação ao tratamento da Fibromialgia, enfatizaremos o mais importante, porém não deixaremos de comentar sobre as orientações gerais, que podem ser facilmente encontradas em sites muito bem desenvolvidos sobre saúde. Iremos falar de algo mais sutil. Algo que consideramos de extrema importância para um tratamento efetivo.

Em primeiro lugar, o paciente com Fibromialgia precisa ser esclarecido a respeito de sua condição. Não existe nenhum tipo de tratamento (principalmente da FIBROMIALGIA) que não requeira um entendimento completo da situação. Se não se compreende a condição, jamais entenderá como as respostas ao tratamento podem ocorrer.

Em segundo lugar: virtudes que devem ser cultivadas pelo médico que acompanha o paciente e pelas pessoas que convivem com quem possui Fibromialgia.

  • Empatia: significa literalmente colocar-se no "lugar do outro". Se você não consegue imaginar-se possuindo todas as condições que o paciente possui, provavelmente, alguma coisa bela faltará em seu tratamento. A beleza encontra-se na sutileza de amar o próximo e de oferecer de maneira incondicional seu apoio ao paciente. Aí está a beleza do tratamento. Independente da dificuldade em estabelecer uma resposta rápida ao tratamento e, da necessidade frequente da mudança de medicamentos e condutas, a proposta de cuidar do próximo deve ser realizada de maneira cordial e honesta. Ouça o paciente e, por gentileza, não diga que a "dor é psicológica ou é coisa da cabeça dele".
  • Apoio Familiar/Compaixão: acreditem, esta é a base. Em ambientes familiares conflituosos ou nos quais a pessoa com Fibromialgia é tratada de maneira deselegante, com grosserias e sem amor, a chance de o tratamento ser adequado é muito pequena. Todos encontram-se no mesmo navio da vida e, cada um é uma peça importante nesta jornada. Desta forma, a união e o respeito mútuo são importantes para a harmonia. Sem harmonia não existe melhora das condições patológicas e sim, muito provavelmente, piora.
Independentemente da situação, não se vitime! A vitimização consome suas reservas emocionais, fazendo com que a pessoa que possui a Fibromialgia entre em um ciclo vicioso de autocomiseração e mais sofrimento. Encare a situação de forma clara! Faça o tratamento, siga as orientações, afaste-se de situações e relacionamentos nocivos e tóxicos, mas por favor, lembre-se que a vitimização não irá ajudar em nada um paciente com Fibromialgia. Não entendam vitimização com " Eu tenho de sofrer calado? Não posso queixar-me sobre minhas dores? " Sim, você deve falar quando está com dor, ou com tristeza ou ansiedade. Mas isto não é vitimização. A vitimização é utilizar a situação para ganhos psicológicos secundários. Isto deve ser evitado, não irá resolver nada.
  • Terapia cognitivo-comportamental;
  • Entendimento claro da doença;
  • Apoio familiar;
  • Atividades físicas sem grandes impactos (veja qual atividade é mais aprazível para o paciente para que exista persistência);
  • Fisioterapia, cinesioterapia, acupuntura, infiltrações de pontos dolorosos;
  • Medicamentos: analgésicos, anti-inflamatórios e eventualmente, em casos mais severos e por curta duração e sob orientação e observação, opióides;
  • Medicações com potencial de modular os mecanismos da dor de origem central: duoloxetina, pregabalina, gabapentina, imipramina, amitriptilina, nortriptilina, fluoxetina, venlafaxina e trazodona.

Diogo Valli Anderle é neurocirurgião e neurologista. Dedica-se ao tratamento da Fibromialgia em seus consultórios na Anderle Neurocirurgia, Neurologia e Cirurgia de Coluna, em Campinas e Amparo.

Observação: As informações neste texto não substituem a avaliação e consulta médicas.